sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Monalisa

Olha lá, a Monalisa de novo. Detesto esse olhar debochado dela e odeio aquela parede. A Michele acha que ela compactua. Eu só acho que ela debocha. Ela, a Monalisa, viu aquele dia que eu estraguei com a noite do Márcio. Ela viu quando eu me rastejei até a cozinha pra comer um pouquinho de sal. Ela viu que eu não lembrei como era aquela música da Imelda pra poder explicar pro Flavio que ele tava tocando errado. Ela olhou pro homem que eu amo brochar, ela julga os amigos que eu tenho. E quando a vêem, ela até descola uns elogios, essa maldita. Aí olha pra mim de novo e dá o mais malvado dos sorrisos. Você se pergunta então por que você não tira essa desaforada e taca dentro do armário ou estilhaça ela na parede até virar um monte de madeira? Por que a Monalisa tem dona. A Michele colocou ela lá por que ela gosta muito dela. Eu disse vamos colocar uns quadrinhos coloridos, mas não. A Monalisa ia ficar onde? Eu não desisti, falei então por que a gente não coloca ela no corredor, no corredor fica melhor, mas não, de novo. A Monalisa tinha gostado da parede da sala e resolveu que iria ficar lá pra sempre. Olhando pra mim. Olhando pra mim e pra tudo que eu faço. Metendo o bedelho nas minhas coisas.
Ela não sabe que eu estou escrevendo sobre ela agora. Ela ta tentando espiar a tela do meu computador, mas ela não consegue. A Monalisa está séria. Se ela pudesse descruzar os braços ela me mataria com um porrete. Mas ela não pode. Ela não pode fazer nada.