sábado, 25 de dezembro de 2010

Mas você foi embora

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Fiquei largada com as pernas nuas dentro daquele ônibus lerdo. Pensando se eu estivesse mais um tequinho que fosse bêbada, uma gota a mais, eu teria saltado e te obrigado a me carregar pra cima. Por que eu fiquei com aqueles teus olhos que estavam me olhando daquele jeito que eu morro - junto com aquele sorriso que acompanha, aquele sorriso, meu deus, e eu indo pontos e pontos pra frente pensando que agora já era. Cheguei em casa e tentei continuar a vida, li uns livros (como eu pude ficar tanto tempo deixando eles pra trás pra só escutar música?) - às vezes os livros fodem a nossa cabeça, determinados livros, e você precisa de um tempo pra respirar, eles viram cargas muito pesadas por justamente te jogarem na cara que você não está vivendo, ou está vivendo mal, e isso na maioria das vezes é a mais pura verdade. Tomei meu banho e passei meu hidratante e tomei cinquenta litros de água gelada antes de deitar na cama que estava uma verdadeira chapa de sanduíche de tão quente, aquele edredom rosa tentando fazer com que eu me afundasse, mas tava calor, tava muito calor, eu não aguentei nem com aquele ventilador ventilando aquele vento quente na minha cara, me sufocando e me dando dor de cabeça e desespero, eu só queria dormir em paz e não deu pra não levantar e e não pensar morta quase chorando de raiva do calor que deixa os paulistas acordados de madrugada quando estão mortos e com a ressaca começando a pegar, que bosta, que bosta de cama é essa, mil vezes a caminha dele que ficou lá do outro lado da cidade cheia de espaço vazio e janela enorme bem em cima, com um puta cara deitado nela sem nem saber que é um puta cara e que tem alguém derretendo num ponto do planeta chorando de sono e mesmo assim querendo ele. Essa casa está cada vez pior de morar, falta janela, falta espaço pros meus quadros, falta parede, falta ar condicionado, falta tv a cabo, falta porta que fecha direito, falta internet pra eu desabafar aqui no blog, falta estante pros meus livros que não cabem mais na estante velha, fico aqui com esses parentes andando pra cima e pra baixo fazendo barulho. Falta seu peso do lado me acordando de madrugada com um braço ou uma perna ou um braço e uma perna por puro instinto de ficar abraçado, falta teu narizinho respirando no meu pescoço e fazendo meu cabelo ficar subindo, descendo, subindo, descendo, falta tuas costas brancas cheia das minhas unhas compridas, falta teu corpo branco inteiro, teu pescoço branco, teus braços brancos todos pintadinhos em colorido, tuas pernas brancas e pezinhos brancos e a tua cueca preta e tua mão dentro da minha blusa pra eu dormir, como que pra ter certeza que eu não sou nunca mais de ninguém, que fudeu, agora eu sou tua pra sempre. Queira você ou não, agora fodeu, fim.
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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Por um longo tempo eu fiquei andando com você. Cozinhava, acordava cedo, dividia os baseados, baixava o volume da tv. Todo tempo gasto valia os segundos. Tantas e tantas vezes que fiquei deitada te olhando se vestir, escolher a camisa, passar a roupa pra trabalhar. Quando ficava sozinha, ficava fuçando dentro dos teus armários, decorando as marcas dos shampoos, trocava as lâminas do barbeador. Olhava as roupas no varal, as fotos pregadas com fita crepe na parede da sala. Levei meus livros, deixei na estante, você me emprestava uns filmes que dizia que era bom eu ver. Caindo a noite a gente bebia muito, fazíamos seleções de músicas trashs e ríamos um do outro. Um dia você me disse eu te amo. Me abraçou sorrindo e me levou de volta pra mesa do bar por que eu tinha bebido muito pra poder andar sozinha. Naquele dia eu fui embora com um outro cara e te deixei chupando o dedo na cadeira. Foi burrice, tentei explicar, mas não tinha mais explicação. Eu acho que eu queria dizer que era melhor você ficar longe de mim. Eu te amo, mas fica longe de mim. Eu só disse o eu te amo, o resto não tive coragem. Me deixa te ter assim como um amigo íntimo. Assim eu não posso te julgar, você não pode me julgar, a gente só se protege e se conforta e se aconselha. Só. Eu só te olho dormir, você só me acorda de manhã com um sorriso de bom dia. Vai, abre a janela. Deixa o sol entrar pra redimir os pecados de antes. Eu nem lembro. Você lembra? Faz tempo. Finge que não foi com a gente. De repente a gente se enganou. Acontece tanto. No fim das contas eu fingia o tempo todo que não te amava e você fingia o tempo todo acreditar. Simples assim.
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domingo, 19 de dezembro de 2010

Promessas, joelhos e pontos de ônibus

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Se você quiser saber sobre noites mal dormidas, flores jogadas no lixo, cabeças doendo, marcas de dentes nos punhos, você pode colocar um trago no copo e a gente amanhece no colchão. Senão, basta ligar a vitrola ali no canto da parede, as vezes falar é pior que o silêncio. A gente bem que pode debruçar na janela, eu te aponto no céu onde foi que eu descobri aquelas coisas que eu já tinha te falado, quando era o momento certo de falar. Ou a gente senta em baixo daquela árvore e espera olhando pro relógio. Não, a gente espera sem olhar pro relógio. O dia já clareou, o que mais pode ser importante? Clareou e a gente ainda tá sentado na calçada apoiando o peso um no outro falando coisinhas de hora certa. Eu vejo você e estou orgulhosa de dividir a calçada. E estou orgulhosa por essa lágrima que rolou pelo seu rosto agora. Estou orgulhosa de sentir culpa por ela. Por que é a hora certa. Você sabe, a gente perdeu tempo nos horóscopos, nos auges de alguns porres, a gente foi se perdendo. Eu te olhei me perdendo e você me viu perdendo você. Ninguém falou um Á. Agora você está aí. Nesse canto com reflexos no rosto e eu não sei o que sobrou pra mim aqui. Um pouco de paz, eu acho. Um pouco do mesmo. Meu telefone que toca cada vez menos. Não quis te falar tchau e nem quero agora. Subi no ônibus com uma promessa e um pedido pra cumprir. Não cumpri. Eu sou só essa vira-lata que perambula pelas ruas sacudindo as pulgas. Cheirando restos e indo embora decepcionada. Aquela que você não pode levar pra casa.
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Uma música trágica para começar um dia trágico

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Não importa o quanto eu tenha dormido. Fiquei acordada até tarde pensando merda e acordei agora, pensando merda. Com a cara inchada sem saber de onde me acertaram. Pior que não ter tempo é ter tempo e não sentir vontade de fazer alguma coisa com ele. Coloco atos nos pequenos minutos, troco cobertas, tiro a poeira, escrevo porcarias e ouço musica ruim, penso em caminhar no parque. Olho pros ponteiros rodando devagar. Amanhã está há um milhão de anos de mim. Assim como ele que pegou minha mão e disse apenas para que eu não me preocupasse, com uma simplicidade que só ele tem. Pois estou aqui, preocupada. Tomando café gelado. Olhando pro relógio e pra tela, alternadamente. Desliguei o celular. Quero mesmo ficar sozinha. Não sei ficar muito tempo com os outros. E eu te digo com toda certeza do mundo que ter que ir dormir é a pior parte. Ninguém nunca te disse? Quando não há mais nada a fazer pra salvar o tempo em que você ficou estragando sua vida, bancando o idiota. Talvez não poder voltar no tempo seja a pior parte. Será que é isso que está me incomodando? Estar livre demais, solta demais, muito de mim em todo lugar, nesse café frio, nessa tela cheia de letras um pouco contidas, nesse rádio que não fecha a tampa do cd direito? Na vitrola desligada da tomada? Na coberta desarrumada, no tênis rasgado no canto da parede? Ou eu estou aí contigo? Longe, jogada, pesada, sem saber se fui vista ou recusada, sem saber quando estou programada pra voltar?
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Não adianta quantas guerras a gente lute, quantas vezes a gente se destrua, se resgate da sujeira, se xingue, diga todas a verdades que doem e se arrependa e se ame, e trepe e peça desculpas. Nada disso é relevante ou decisivo ou mesmo o suficiente pra que a vida faça a merda da sua parte e o que é certo afinal, que é acabar com essa loucura que virou a minha vida desde que eu tropecei em você, ou você tropeçou em mim. Eu estava parada, com todas as coisas que eu tinha, pelas quais eu lutei e morri, e tive que passar por todas essas coisas desde então que só terminaram de me matar e nunca se cansam, como aquele dia horrível cinematográfico que eu fiquei naquela porra de pista, bem lá no meio, no meio da pista e no meio de toda aquela gente dançando grudada escutando Mr. Brightside e tentava te ver mas só chorava parada e morrendo de medo e dó de mim mesma, por que eu não entendia nada e ninguém no mundo inteiro podia me explicar nada, o que eu estava fazendo ali e o que você estava fazendo lá e por que eu não te achava e por que você não estava me procurando? Por que eu lembro de todas as vezes que sai gritando, chorando, passando vergonha, a fim de te matar, sem querer olhar nos olhos dos outros e a vez que segurei e deixei pra chorar no ônibus, e deixei pra morrer em parcelas escondida pra ninguém me achar fraca. E agora, doze meses depois, você virou pra mim e disse que não tinha nada a fazer, nunca, nunca nada a fazer, e se arrependeu e eu te deixei se arrepender vendo seus olhos vermelhos de raiva e cansaço e tristeza e amargura e você chorou, e eu deixei você chorar no meu braço, e você sem sabe como é duro e como meu coração se quebra, você sem saber como é olhar pra alguém e sentir que tem o mundo nas mãos mas na verdade não nada, nada, nada, você sem saber que o amor pode ser uma perda eterna, algo difícil de encarar, ou de assumir, ou de conversar, ou tocar fora, esquecer, passar por cima, escrever num papel, transferir pra um gesto, você sem saber porra nenhuma. Você sem saber me procurar no inferno. Eu sem saber deixar pistas.
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domingo, 12 de dezembro de 2010

É tudo muito triste no blogger

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Por que estou tentando dar um simples ctrl+c - ctrl+v e não consigo. Não, eu não escrevo direto no blogger. Eu escrevo originalmente no word e colo. Mas agora de um dia pro outro o blogger não permite. Achei uns dez textinhos daquele tempo. Queria tanto. Mas tem que copiar tudo de novo aqui. E eu vou tentar, mas não pode ser tudo de uma vez como eu queria. Vai ficar esquisito. Eu não era casada mas estava querendo ser. Dele, obviamente, por que querer casar sem motivo aparente nunca tinha rolado comigo. Curtia solidãozinha. Agora curto ler coisinhas que eu escrevia sobre ele e ver o quanto mudou. Mas agora que o blogger não deixa, vou ter que usar esse tempo pra reclamar, que é o que eu faço melhor.
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sábado, 20 de novembro de 2010

O tempo muda muito com a gente

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Nem pensei em um dia me querer assim. Te querer eu sempre quis. Lembra quando a gente dormia um pra cada lado? Se encostasse o pé em você de madrugada sem querer logo puxava com medo do que tu ia pensar. Puxava o pé com raiva de ter medo do que tu ia pensar. E a gente pensava várias coisas. Tu pensava, assim como eu, que ia dar merda aquele pé ali. Que o pé ia virar uma mão e logo mais um colo, e logo a gente ia ficar meio engrungrunhado e no dia seguinte ia ter que dar explicação ou continuar alguma coisa que a gente não tava pronto pra continuar. E era assim. Eu te vendo dormir e perdendo o sono, eu querendo te ver dormir todo dia. Com meu pé recolhido. Eu acho que você lembra como era uma merda. Por que no dia seguinte eu tinha meus problemas, você tinha seu ideal de solidão. Eu era sozinha com um monte de gente, só com você eu não era. Ficava preocupada, tensa, mal sabia o que falar. Aí a gente tomava um porre e se amava pra caralho, falava de tudo, de como era frustrante. Eu arrumando o cabelo, tentando ser o menos óbvia possível. E tu me disse que naquele dia daquele porre homérico no aniversario do Marquinhos o tapa que eu te dei todo desajeitado, mais pra exprimir raiva do que pra machucar, naquele tapa que eu sofri por ter te dado e pedi desculpa até não poder mais, foi ali que tu disse que percebeu o que a gente tava fazendo. Eu lembro de estar morrendo de medo na hora de ir embora por que éramos nós dois e mais um monte de gente e eu sem saber se você ainda era meu melhor amigo. Aí cada um foi ficando num lugar, em casa, nos táxis, nos metrôs, e a gente continuou seguindo. Nós dois. E sabendo que tu ia perguntar. E tu perguntou. E quando perguntou, me deu o braço rindo perguntando o que foi aquilo de eu ter me enfiado no meio duma roda de cinquenta pessoas e te dando um tapa na cara todo torto. Você riu. Foi ali que eu pensei caralho, nunca vou deixar de gostar desse cara. Você fazia parte de mim, da minha vida. E aí você começou a fazer planos. Nada daqueles planos solitários que você tinha. Você me incluiu nas viagens, nas casas, em todos os lugares. Nem perguntou se eu queria. Falava "aí a gente vai pra lá, depois a gente vai pra cá e depois a gente volta, e se bobear a gente NEM VOLTA", e ficava falando eu ficava escutando quieta de tão bom que era escutar.
Depois de tanta volta, tanta coisa, tanta gente, eu percebo que o que eu quero não está na mesa do bar (apesar de gostar muito da mesa do bar), não está na madrugada da Augusta interminável, não está nas multidões. Ainda gosto de tudo isso, assim como sei que você gosta. Mas no meio das coisas a gente se entreolha e percebe que é hora de voltar pra casa. E como é bom voltar pra casa. As vezes a gente conversa e pergunta se é a velhice dando as caras. Se é o primeiro fio de cabelo branco mostrando todo seu significado que a gente achava que ia ignorar pra sempre. Que eu nunca ia parar de fumar maconha e que nunca ia precisar dormir direito. Na verdade a gente nunca soube do que precisava. Mas agora sabe. E tem sido bom assim. Tem sido bom os nossos problemas, as compras de supermercado, a volta pra casa. Tem sido boas as nossas divisões, o que você é, o que eu sou, o que a gente virou. Acho que nunca gostei de mais ninguém.
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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

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Não quero voltar. Mas voltarei. Acabaram-se as férias. Além de outras coisas óbvias, o mundo precisa ter um tempinho pra descansar. Não ter que fazer nada um mês. E que escrevam e dancem e cantem e sejam interrompidos pra ganharem um beijinho que nem o que ganhei agora. Acho que descansei. E se não descansei o suficiente, pelo menos aprendi uma coisa que uma vez quase não acreditei por que caí no papo furado dos infelizes que diziam "não existe em lugar nenhum". Existe e é fácil e bom demais. Acordar e dormir e ser interrompida.
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domingo, 10 de outubro de 2010

Receita para se viver bem após os 50 (caso não lhe tenha sobrado dignidade) - em resposta ao texto do pianista Aureo Galli (Naquele blog de merda).

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Quando você se olha no espelho e vê que está velho, coçando a barba, e tem uma mulher quase morta na cama, e tem que sair e trabalhar, se possível em um trabalho que não termine de te matar para que você possa continuar pagando as coisas convencionais: colégio das crianças, roupas da patroa e as despesas de motel onde se come sanduíche de pastrame a qualquer hora do dia ou da noite, e ainda há balinhas de hortelã grátis, você sempre tem uma luz no fim do túnel. É uma maravilha. O tipo de vida fácil de comprar. Por 1,99.
Sua vida não vale é um tapa na cara.
De qualquer forma, você pode arrumar um novo ofício, por que vai que você acha que sua vida é tão bacana que pode virar livro. Taí. Escreva. Escreve-se para tudo no mundo. Pra contar novidade, pra contar coisa velha, fazer arte, fazer homenagem, não ficar louco, ficar louco, cutucar os outros. A escrita é um direito de todos. Alguns demoram pra aprender c's, ç's, s's, 2 s's, z, ceagá e xis. Mas aprendem fácil e já podem sair por aí fazendo merda.
É fácil.
Primeiro, pegue um nome qualquer. Por exemplo, Ana Maria. Se achou muito normal, intercionalize a coisa pra soar inteligente. Anne Mary. UUUhhhh. Sentiu a diferença?
O segundo passo, é pegar um dicionário. Mas não se prenda muito nele pra não se confundir e cometer gafes. Aprenda pelo menos a palavra blasé. Se não achar no dicionário, procure no google. Ou pergunte pro seu jardineiro.
Depois pegue um carinha qualquer. Bem qualquer mesmo. Coloque-o fumando um cigarro já de cara e dê a ele cara de mau. Cara de mau encanta qualquer Ana Maria.
Escolha no que vai se basear. Se na vida real, se vai fazer ficção, se vai se inspirar no padeiro da esquina ou numas ex-namoradas entediadas, na sua mãe. Foda-se. Mas cuidado se escolher ficção. Não vá confundir realidade com ficção. Afinal você não quer que sua mulher leia e ache estranho, assim como não quer receber em casa uma caixa de papelão cheia de fotos, bilhetes já escritos, e mails, cartões, dvds, que alguma mulher já enganada por você sinta vontade de mandar depois de também ler suas porcarias falando mal dela. Às vezes você tem que considerar que já foi porco o suficiente, isso sem esquecer do quanto já pingou suor na cara da coitada até ela mentir que gozou pra você sair logo de cima dela. Cuidado ao expôr sua vida. Se a sua vida for de mentira, claro.
Agora você já tem dois personagens. Coloque-os em algum lugar. Nos anos 80, 50, 20, miloitocentosebolinha, no Egito, numa aldeia, na Mata Atlântica, na estrela onde mora o Pequeno Príncipe rodeado de baobás. Achou um bacana? Chegou a hora da ação. Eles tem que fazer alguma coisa, e se você encher de fodelança desde o começo, já ganhou a parada. Mas se você se decidiu por fazer um draminha, vai ter que ter diálogo. Muita churumela, mudanças de países, citação de trilha sonora (mas cuidado com as épocas - o Beck, por exemplo, e caso você não saiba, além de nome de droga também é um cantor contemporâneo, e ainda não tinha nascido em 1000 e blablablá. - Essa é uma dica muito importante). Também conjugue bem o verbo. Encha de "deixaste-ei" que sempre cola.
Cuidado com o que seus heróis dizem. Seu personagem inteligente pode virar um idiota e você não quer isso. Ele tem que salvar a mocinha no final, achar o amor, criar um papagaio.
A mocinha, claro, não precisa ser muito inteligente. Mas aí capriche na descrição, coloque pernas grossas, cachos dourados, cuzinho apertado.
Mas atenção: Você não está escrevendo um monólogo, cuidado pra não dar mais valor ao seu herói do que ele merece. A esse passo, pode ser que nem você o aguente mais, e então terá que matá-lo. E Shakespeare já fez isso antes. James Cameron também, qualquer um em cinema, livro ou teatro já fez isso antes de você. Ah, seja humilde, não se compare a grandes nomes.
Se bem, que se você fizer isso, quero dizer, matar seu herói, me poupa de ter que falar o resto. Então faça. Jogue todo mundo da ponte, pra ficar heróico. Você quer ser lembrado.
Depois, corra pro abraço e seja feliz. Se você não souber nada sobre felicidade (e for do tipo, que por isso mesmo, fica achando que ninguém mais é) está perdoado. Tem gente que procura a vida inteira e não encontra. Acontece bastante.
Aí você pode ficar na boa pagando a vida artificial pra sempre. Dizendo a todos que está cuidando das crianças. E quando você morrer, talvez alguém vá ao seu caixão pra dar um cuspe.
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pingue pongue - parte dois - mais uma resposta ao incansável pianista Aureo Galli.

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Não tem coisa mais dor de cotovelo do que alguém que vira pra você e te diz que você vive no seu mundinho.
Nunca enchi o saco de ninguém. Sempre fui assim.
Sempre voltei tarde pra casa ou não volto. Beijo meus amigos na boca.
Pago minhas contas. Não peço nada a ninguém. Trabalho de domingo a domingo pra poder comprar meus livros e meus cigarros. Fumo por que gosto. Bebo por que gosto. Bebo quando preciso também.
Gosto de passar noites olhando pela janela e fumando meus cigarros acesos um no outro.
Sou chegada num queijo com goiabada, coloco canela no leite.
Tomo cerveja quente se não tiver cerveja gelada.
Gosto de dez minutos de sexo puro e simples de manhã antes de sair da cama.
Apanhei num show do Planet Hemp. Ouvia Ventania e tocava no violão quando tinha 15 anos.
Roubei uma pirâmide de cristal no shopping quando tinha 16 anos e minha mãe descobriu e me fez voltar pra devolver.
Adoro musicais. Odeio livros policiais. Baixo na porta dos meus amigos com kits pra ficar acordado.
Gosto de bandas ao vivo. Odeio que desmarquem comigo. Amo teatro. Odeio comédia. Não gosto de circo. Quero que se fodam os que ficam rotulando. Odeio ex-namorados com dor de cotovelo. Odeio ex-namoradas com dor de cotovelo. Escrevo cartas.
Gosto de urgência.
Não sei dirigir nem andar de bicicleta. Não sei boiar nem nadar. Sei andar de patins.
Adoro dançar contanto que a música esteja alta.
Odeio homem andando pelado dentro da minha casa.
Não sou fiel se estiver desconfiada.
Já fui muito desconfiada.
Gosto de tapar os ouvidos debaixo do chuveiro. Cubro a orelha com o edredom para dormir desde pequena. Tenho alergia a insetos. Não uso desodorante com álcool. Não consigo dormir bem sem roupa.
Tudo isso pode não ser importante, mas é verdade.
Não gosto de pensar que eu seja importante, ser importante pesa.
E tudo isso que você leu aí não é novidade pra ele. E continua não sendo importante. Mas foi assim que ele me conheceu. Ele sabe o que gosto de fazer, onde gosto de ir, onde escondo meus diários. Ele sabe que eu gosto de beber e bebe comigo.
Nós continuamos não sendo importantes. Não somos blases, e esse é o nosso "mundinho". E se depois de tudo você acha que é relevante vomitar um monte de textos estúpidos sobre mim, achando que é capaz de ensinar alguma coisa a mim ou a uma pulga, saiba que não há nada que eu possa aprender com você, que não seja o que eu não quero e o que é vergonha alheia.
E aquela personagem é uma idiota. Uma personagem sem nada que tudo que ela faz é ficar te ajudando a se convencer que tu é foda.
E tu não é foda porra nenhuma.
Tá falado.
Fim.
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domingo, 19 de setembro de 2010

Pingue pongue parte I - Tentei mas não consegui -

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Fiquei tentando mudar o layout pra combinar com a vida. Vida nova, trabalho novo, casinha nova, cabelos castanhíssimos e curtíssimos, tem que ter blog novo também. Claro que eu não consegui.
Ainda.
Num dia incomum de paciência mudo tudo.
Fiquei meio fula por que é, como se lendo, eu estivesse sendo forçada a fazer, dizer, beijar coisas que eu não quero. Não sou eu. Eu não sou assim. Nunca fui. Credo. Vê se pára. Coloca ela pegando um trem e indo embora pra casa do caralho. Mata ela numa ponte, um piano em cima da cabeça. Mas mata ela que ela nunca existiu. Nem aí na sua cabeça. E aprenda também a se desapegar.
Ah, dei recado. Saco. Tudo bem. Se personagens são a melhor definição não tem problema. Mas foi bem menos que isso.
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

As coisas ficaram como deviam ter sido.

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Uma coisa que ele disse é verdade. Não consigo mais escrever por que não tem do que reclamar. choramingar sobre o leite derramado, inventar vidas perfeitas, contar desastres.
Agora o que tem é justamente o que está aqui.
Eu tentando escrever e ele com seu livro no meu lado na cama. Reli as mil coisas obscuras que já escrevi sobre ele no antigo 3/4. Estranho eu ter adivinhado como seria. Ter uma toalha pra mim no banheiro. Ter minha pasta de dente em cima da pia. Ter meu lado certo na cama, a não ser pra escrever e o laptop alcançar. Ele reclamando por que eu tiro o elástico do lençol preso no colchão. As reclamações dele, os afaguinhos dele. Tudo isso eu já sabia.
E procurando meu antigo blog no google, por que eu não lembrava mais qual era a senha dele, descobri uma farsante com o nome do meu ex-blog. Sacanagem. Mas tudo bem, se você pensar que aquele blog nem valia a pena. Continua no ar por orgulho, passei horas da minha vida escrevendo asneiras nele. E asneiras as vezes são graça na internet. Minha besteira esquecida.
Agora já não danço tanto, gosto de casinha e comidinha na cama. Gosto de escrever e reler e a visão que tenho todo dia dele se arrumando com sono. Gosto dele estirado em mim fazendo peso. Gosto de tentar explicar as coisas pra ele. Gosto de mim do lado dele.
No final de tudo eu já sabia e os mundos se cruzaram. O que eu inventava e o que eu vivo agora.
Não tem mais o que inventar. Por aqui eu sigo. Vivendo. E muito bem acompanhada. Sempre em frente e de cabeça pra baixo. Do jeito que eu gosto.
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Por que eu sou assim

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Não sei viver eles. Preciso deles pra ficar quieta lendo um livro. Desculpem os ataques de ciúmes, as choradeiras, as vezes que bebi demais e vocês tiveram que me carregar pra casa. Todos os sacodes que vocês tiveram que me dar pra eu não cair no buraco e me quebrar. Obrigada por serem tão geniais, inteligentes, presentes e compreensivos. Obrigada pelas madrugadas, festinhas particulares, festinhas não - particulares, telefonemas de suicídio de madrugada, pizzas frias, cocas zero com vodka, tequiladas na Augusta, guarda chuvas, roupas emprestadas pra trabalhar de ressaca, cobertores no frio, obrigada por entenderem sobre tudo que eu não entendo. Também por se explicarem quando não havia nada pra ser explicado, o que eu acho mais incrível e digno de nota. Eu sou uma menina que precisa de explicações. E de vocês por perto.
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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Você diz baixinho "não se preocupe" e eu digo baixinho shhhhh shhhhh. Escancaro nossa janela como escancarei minha coragem de ir até o ultimo fio de limite pra ver onde vai dar essa coisa maluca de te ter assim tão perto. Você guardou todas aquelas cartas dentro daquele livro? Bobagem. Elas não te dizem nada. Acho que não consigo nunca. Só sei que quero prender teu riso e teu cheiro, dentro do meu sorriso e do meu cheiro, dentro das nossas coisas.
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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Eu lembro de algumas coisas que devem ser o suficiente

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Barulho de chuva
Latas por todo canto
uma frase simples
e lembro sobre
como é bom
fechar os olhos
e não saber
de onde vem
as pernas
os beijos
os gozos
Lembro especialmente
de um chão gelado
um cigarro apagado
um olhar
de medo
a lágrima presa.
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