domingo, 19 de dezembro de 2010

Promessas, joelhos e pontos de ônibus

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Se você quiser saber sobre noites mal dormidas, flores jogadas no lixo, cabeças doendo, marcas de dentes nos punhos, você pode colocar um trago no copo e a gente amanhece no colchão. Senão, basta ligar a vitrola ali no canto da parede, as vezes falar é pior que o silêncio. A gente bem que pode debruçar na janela, eu te aponto no céu onde foi que eu descobri aquelas coisas que eu já tinha te falado, quando era o momento certo de falar. Ou a gente senta em baixo daquela árvore e espera olhando pro relógio. Não, a gente espera sem olhar pro relógio. O dia já clareou, o que mais pode ser importante? Clareou e a gente ainda tá sentado na calçada apoiando o peso um no outro falando coisinhas de hora certa. Eu vejo você e estou orgulhosa de dividir a calçada. E estou orgulhosa por essa lágrima que rolou pelo seu rosto agora. Estou orgulhosa de sentir culpa por ela. Por que é a hora certa. Você sabe, a gente perdeu tempo nos horóscopos, nos auges de alguns porres, a gente foi se perdendo. Eu te olhei me perdendo e você me viu perdendo você. Ninguém falou um Á. Agora você está aí. Nesse canto com reflexos no rosto e eu não sei o que sobrou pra mim aqui. Um pouco de paz, eu acho. Um pouco do mesmo. Meu telefone que toca cada vez menos. Não quis te falar tchau e nem quero agora. Subi no ônibus com uma promessa e um pedido pra cumprir. Não cumpri. Eu sou só essa vira-lata que perambula pelas ruas sacudindo as pulgas. Cheirando restos e indo embora decepcionada. Aquela que você não pode levar pra casa.
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