segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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Por um longo tempo eu fiquei andando com você. Cozinhava, acordava cedo, dividia os baseados, baixava o volume da tv. Todo tempo gasto valia os segundos. Tantas e tantas vezes que fiquei deitada te olhando se vestir, escolher a camisa, passar a roupa pra trabalhar. Quando ficava sozinha, ficava fuçando dentro dos teus armários, decorando as marcas dos shampoos, trocava as lâminas do barbeador. Olhava as roupas no varal, as fotos pregadas com fita crepe na parede da sala. Levei meus livros, deixei na estante, você me emprestava uns filmes que dizia que era bom eu ver. Caindo a noite a gente bebia muito, fazíamos seleções de músicas trashs e ríamos um do outro. Um dia você me disse eu te amo. Me abraçou sorrindo e me levou de volta pra mesa do bar por que eu tinha bebido muito pra poder andar sozinha. Naquele dia eu fui embora com um outro cara e te deixei chupando o dedo na cadeira. Foi burrice, tentei explicar, mas não tinha mais explicação. Eu acho que eu queria dizer que era melhor você ficar longe de mim. Eu te amo, mas fica longe de mim. Eu só disse o eu te amo, o resto não tive coragem. Me deixa te ter assim como um amigo íntimo. Assim eu não posso te julgar, você não pode me julgar, a gente só se protege e se conforta e se aconselha. Só. Eu só te olho dormir, você só me acorda de manhã com um sorriso de bom dia. Vai, abre a janela. Deixa o sol entrar pra redimir os pecados de antes. Eu nem lembro. Você lembra? Faz tempo. Finge que não foi com a gente. De repente a gente se enganou. Acontece tanto. No fim das contas eu fingia o tempo todo que não te amava e você fingia o tempo todo acreditar. Simples assim.
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